Destaque da cidade
Infraestrutura resiliente nas cidades do Brasil cresce a partir das raízes
Como cidades de Recife a Belém estão buscando estratégias verdes inovadoras com o apoio do Global Environment Facility.
No rio em Recife (Crédito da foto: PNUMA Dockery)
A infraestrutura urbana inovadora pode se parecer com concreto e ferro - ou com manguezais. A cidade brasileira de Recife, construída em três ilhas, adotou a natureza como aliada no planejamento urbano e no design do espaço público. Em vez de resistir ao ambiente natural, a cidade agora está projetando soluções em torno dele.
Recife fica em uma planície de inundação na junção dos rios Beberibe e Capibaribe antes de desaguar no Oceano Atlântico. Durante décadas, a cidade tem enfrentado problemas com enchentes, falta de espaços públicos suficientes, sistemas de esgoto deficientes e má qualidade da água. As pessoas que vivem ao longo das margens dos rios enfrentam regularmente impactos devastadores causados pelas chuvas fortes e pela subida das águas, afetando suas casas, mobilidade e meios de subsistência.
No entanto, um novo jardim filtrante em um parque público está abrindo caminho para que isso mude. Essa solução de infraestrutura baseada na natureza foi projetada para demonstrar como o mundo natural pode nos ajudar a enfrentar os desafios urbanos, nesse caso, a qualidade da água.
O jardim filtrante, que também levou ao rejuvenescimento do parque público, significa que os moradores do bairro agora têm acesso a espaços públicos de melhor qualidade e mais seguros. "Como esperávamos, isso se tornou uma extensão de nossas casas", disse Fabiane de Lima, que mora às margens do rio. "É uma área de lazer que muitas vezes não temos em casa porque muitos não têm quintal ou varanda."

Essa inovação não foi isolada. Uma série de intervenções complementares na área ajudou a reduzir o desperdício e as emissões, a melhorar a qualidade da água e a facilitar o acesso aos serviços públicos por meio de opções de mobilidade sustentável, como pontes para pedestres e caminhos fluviais que podem ser percorridos a pé. Os parques às margens do rio agora também são mais seguros para mulheres e crianças, que no passado costumavam evitar a área.
Esses benefícios refletem o poder do planejamento integrado. "Lidar com os desafios da mudança climática, da natureza e da poluição de uma só vez não é mais uma quimera. De fato, isso é especialmente crucial nas cidades, onde cada intervenção deve abordar essas múltiplas questões e também melhorar os meios de subsistência das muitas pessoas que vivem nesses espaços urbanos", disse Asher Lessels, chefe da Unidade de Mitigação Climática do GEF do PNUMA.
O Brasil está implementando várias dessas intervenções holísticas com o apoio do GEF e do PNUMA, em apoio ao desenvolvimento urbano sustentável. Dois desses projetos, liderados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil, são chamados de CITinova I e II. Eles apoiam o Brasil com US$ 35 milhões em doações GEF e US$ 380 milhões de cofinanciamento mobilizado. Essas iniciativas envolvem a colaboração entre os departamentos dos governos federal, metropolitano e local, bem como o apoio ao desenvolvimento de políticas locais sobre clima e natureza, com o objetivo adicional de informar a política nacional.

Na cidade amazônica de Belém e na região metropolitana que a circunda, a rápida urbanização impulsionada pela mineração, agricultura e serviços está exercendo imensa pressão sobre os ecossistemas e a infraestrutura do entorno. Cidades como Ananindeua e Marituba se tornaram extensões residenciais e industriais de Belém, intensificando os fluxos de passageiros e o estresse ambiental. Essa dinâmica transcende as fronteiras municipais, tornando a governança coordenada crucial para uma ação climática eficaz.
Para enfrentar esses desafios, uma iniciativa GEF, apoiada pelo PNUMA e implementada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil, está testando uma rua de baixa emissão no centro da cidade de Belém, visando às emissões de transporte, edifícios e resíduos, ao mesmo tempo em que estabelece um mosaico de áreas protegidas que integram a conservação entre jurisdições. Esse esforço em escala metropolitana está ajudando a aumentar a resistência da área a inundações, estresse térmico e perda de biodiversidade.
O projeto também apoia meios de subsistência sustentáveis por meio de estratégias de bioeconomia urbana, como o fortalecimento da agrofloresta na Ilha de Combú e o apoio a empresas locais, como sorveterias e fabricantes de chocolate. Essas intervenções garantem que os benefícios econômicos permaneçam nas comunidades e, ao mesmo tempo, promovam práticas circulares, de baixo carbono e baseadas na natureza.
"Os desafios da urbanização não estão contidos nas cidades. Ao expandir o foco do âmbito municipal para o metropolitano e os ecossistemas circundantes, a iniciativa reúne governos nacionais, estaduais e locais, criando modelos replicáveis para um planejamento urbano inclusivo, positivo para a natureza e de baixa emissão", disse Mohamed Bakarr, Gerente de Integração e Conhecimento GEF . "Essa abordagem integrada não se trata apenas de proteger o meio ambiente - trata-se de transformar a governança urbana e os sistemas de planejamento para construir cidades mais saudáveis, resilientes e equitativas para o futuro."

O impacto social e econômico positivo dessas soluções também está inspirando novas iniciativas. Por exemplo, o sucesso do projeto piloto de Recife despertou o interesse em criar novas instalações à beira do rio, como píeres e espaços públicos, além de investimentos em mobilidade sustentável ao longo do rio, com base na mesma abordagem inclusiva.
"O principal objetivo é que o conhecimento e as lições aprendidas com esses programas continuem a ter um impacto nas comunidades de todo o país, ampliando-os e adaptando-os a muitos outros municípios em todo o Brasil", disse Osvaldo Luiz Leal de Moraes, Secretário Adjunto de Políticas e Programas Estratégicos e Diretor do Departamento de Clima e Sustentabilidade do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil.
"O Brasil se comprometeu a reduzir suas emissões entre 59% e 67% até 2035. E os municípios desempenham um papel extremamente importante na consecução dessa meta. De fato, o novo Plano Nacional de Mitigação do Brasil descreve como as reduções de emissões nas cidades são essenciais para que o Brasil atinja suas metas de NDC, e é preciso dar atenção especial à transição energética."
A urgência é clara, globalmente, onde dois terços da população mundial viverão em cidades até 2050 e no Brasil, que sediará a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) em novembro.
"Não podemos discutir o meio ambiente sem olhar para as cidades", disse Jader Filho, Ministro das Cidades do Brasil. Como anfitrião da COP30, o Brasil reconhece que investir em infraestrutura urbana sustentável hoje economizará dinheiro, vidas e meios de subsistência - agora e no futuro.
Esses projetos no Brasil fazem parte do Programa Cidades Sustentáveis GEF. Atualmente em sua terceira fase, o programa apoia diretamente mais de 90 cidades em 33 países, com foco no planejamento urbano integrado e em soluções inovadoras de sustentabilidade. O programa contribuiu para o desenvolvimento das plataformas globais de conhecimento e parceria UrbanShift e Global Platform for Sustainable Cities, que facilitam a colaboração entre cidades e partes interessadas. Essas iniciativas têm como objetivo transformar os sistemas urbanos para o benefício das pessoas e do planeta por meio de um desenvolvimento urbano sustentável, integrado, positivo para a natureza e com zero de emissões líquidas.

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