Recapitulação

Liderança local abre caminho para mudanças sustentáveis no Marrocos

Como o Marrocos pode transformar seus recursos, resíduos e energia em motores de crescimento resiliente?

Vista aérea de uma cidade no Marrocos

Este blog foi escrito por Saheel Ahmed e Karishma Asarpota do ICLEI.

Como o Marrocos pode transformar seus recursos, resíduos e energia em motores de crescimento resiliente? Essa foi a questão central do Diálogo de Governança Multinível doUrbanShift Marrocosrealizado em 20 de junho de 2025 em Rabat. Reunindo mais de 100 líderes de governos nacionais e locais, agências internacionais, setor industrial, academia e sociedade civil, o evento representou uma etapa fundamental na ambiciosa jornada do Marrocos rumo a uma economia circular baseada em inovação, inclusão e ação.

Ideias transformadas em ação por meio de workshops temáticos 

O Diálogo contou com três workshops orientados para a ação, cada um deles focado em traduzir a visão em etapas tangíveis:

  1. Resíduos: Surgiram planos para formalizar recicladores informais, fortalecer a responsabilidade estendida do produtor (EPR) e melhorar a segregação na fonte.
  2. Água: As conversas se concentraram na reutilização de águas residuais, sistemas descentralizados e tarifas reformuladas para aumentar a eficiência.
  3. Energia e recursos: Focado no aproveitamento de resíduos, biomassa e energias alternativas, juntamente com cadeias de suprimentos circulares e produtos projetados para a longevidade.

"A economia circular não é apenas um imperativo ambiental, é uma oportunidade de transformação econômica inclusiva e sustentável."

Com essa declaração, a Ministra Leila Benali (Ministério da Transição Energética e do Desenvolvimento Sustentável) abriu a discussão, instando as diversas partes interessadas do Marrocos a irem além das conversas e a adotarem estratégias tangíveis.

Junto com ela estavam Ilaria Carnevali (PNUD Marrocos) e Sanae Lahlou (UNIDO Marrocos), ambas confirmando que o suporte técnico internacional e o compartilhamento de conhecimento serão pilares fundamentais para o avanço do caminho do Marrocos. Paul CurrieICLEI África), enquadrou a circularidade como uma oportunidade de "repensar como os recursos são usados, compartilhados e valorizados", enfatizando que a verdadeira mudança exige inovação sistêmica.

Do aprendizado global à ação local

Durante a sessão sobre as melhores práticas globais, Claire ThiebaultPNUMA) compartilhou os princípios de redução de resíduos, reutilização de materiais e restauração de ecossistemas, enfatizando que o Marrocos deve se alinhar com as trajetórias globais para garantir que as estratégias nacionais sejam compatíveis com os padrões globais. Gaetan Ducroux (Delegação da UE) ofereceu a jornada da Europa como um guia, observando o valor de uma regulamentação forte e da inovação orientada por pilotos, enfatizando as estruturas regulatórias (como o Plano de Ação de Economia Circular da UE), incentivos financeiros e sistemas de monitoramento fortes. uma coordenação interministerial mais forte, ampliação dos projetos-piloto e melhor alinhamento entre as ações locais e nacionais.

Vozes diversas, prioridades compartilhadas

O painel estratégico revelou a unidade dentro da diversidade:

  • Rabiaa Janati (Ministério da Indústria e Comércio) enfatizou como a sustentabilidade e a circularidade estão cada vez mais ligadas à competitividade industrial. Ela argumentou que os setores do Marrocos não podem permanecer competitivos sem a integração de abordagens circulares, especialmente por meio da adoção de modelos de negócios circulares que priorizem a eficiência de recursos, ciclos fechados e práticas industriais inovadoras. É importante ressaltar que ela apontou a necessidade de ampliar os pilotos industriais existentes, muitos dos quais permanecem pequenos em escopo, para que se tornem transformadores em nível nacional.

  • Mohamed El Houari (AMEE - Agência Marroquina de Eficiência Energética) explorou a sinergia entre energia renovável, eficiência energética e princípios de economia circular. Ele ressaltou as oportunidades de valorizar os fluxos de energia, como por meio de projetos de transformação de resíduos em energia e biomassa, que podem simultaneamente reduzir o desperdício e gerar energia limpa.

  • Hanane Mourchid (OCP - Office Chérifien des Phosphates) colocou a inovação e o investimento no centro da transformação do Marrocos. Ela observou que a OCP já integrou práticas circulares internamente, mas enfatizou que "investimentos estratégicos e inovação de longo prazo não são negociáveis" para qualquer setor que pretenda alcançar a eficiência de recursos. Ela enquadrou a circularidade como um imperativo comercial que exige investimentos ousados e sustentados.

  • Hind Baddag (do setor de cimento) destacou as práticas atuais de valorização de resíduos e substituição de energia no setor de construção. Ela se concentrou em duas oportunidades principais: (1) reutilização de resíduos de demolição em novos processos de construção. E (2) a adoção de combustíveis alternativos - como biomassa ou combustíveis derivados de resíduos - em vez de depender exclusivamente dos combustíveis fósseis tradicionais.

  • Mounsif Chrai (COVAD - Coalizão para a Valorização de Resíduos) enfatizou que, embora a reciclagem tenha um grande potencial, o Marrocos enfrenta barreiras de infraestrutura, regulamentação e prontidão de mercado. Ele pediu estruturas mais claras e mecanismos de coordenação para liberar esse potencial, apontando para a necessidade de formalizar e estruturar cadeias de valor de reciclagem. Ele enquadrou a reciclagem não apenas como uma questão técnica, mas como um desafio sistêmico que exige clareza de governança.

  • Oussama Hasnaoui (AIRE - Alliance for Innovation and Recycling in Packaging) pressionou por uma maior responsabilidade do produtor no projeto de sistemas circulares. Ele defendeu especificamente os esquemas de Responsabilidade Estendida do Produtor (EPR), em que as empresas assumem a responsabilidade pelo ciclo de vida de seus produtos e embalagens. Ele também destacou a importância de melhorias na logística e na rastreabilidade da recuperação de embalagens, observando que, sem sistemas eficientes, os esforços de reciclagem não podem ser ampliados. Sua intervenção pediu a colaboração público-privada para garantir investimentos e criar sistemas eficientes de recuperação de embalagens.

  • Da sociedade civil, Abderrahim Ksiri (Associação de Professores de Ciências da Vida e da Terra AESVT, Sociedade Civil e Governança (CESE)) apontou desafios sistêmicos, destacando as persistentes barreiras estruturais para a transição circular do Marrocos. Ele destacou lacunas de dados, governança fragmentada e falta de coordenação como desafios sistêmicos que prejudicam o progresso. Sua mensagem foi clara: a menos que essas questões fundamentais de governança sejam abordadas, os esforços setoriais permanecerão fragmentados. Ele também sugeriu que a circularidade deve ser integrada à governança territorial e ao planejamento nacionaltornando-a parte da arquitetura sistêmica em vez de uma série de iniciativas isoladas.

O que vem a seguir

As descobertas do Diálogo alimentarão diretamente o roteiro de economia circular do Marrocos que está sendo desenvolvido atualmente pelo Ministério de Transição de Energia e Desenvolvimento Sustentável (MTEDD), com um diálogo de acompanhamento em nível nacional programado para setembro. Esse segundo Diálogo Nacional tem como objetivo explorar como os princípios da economia circular podem ser localizados nas cidades. O encontro também oferecerá às partes interessadas a oportunidade de examinar como as recomendações do primeiro Diálogo Nacional-Local foram integradas, avançar no planejamento técnico e fortalecer o alinhamento entre a política nacional e a implementação local.